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Do trauma para a liberdade interior

Atualizado: 8 de mai.

Vamos começar pelo início. Todos nós já experienciamos liberdade ou alegria na nossa vida. Aquela sensação de leveza e de energia, em que existe talvez uma sensação de entusiasmo natural, ou simplesmente uma tranquilidade e paz interior. Eu diria que esse é o nosso estado mais natural. Basta olharmos para crianças menores e conseguimos observar o quanto são curiosas, inocentes, espontâneas e autenticas. Existe uma livre expressão natural que tanto pode ser um choro, ficarem chateadas ou ter um gesto muito amoroso ou uma gargalhada espontânea.


Gosto de lhe chamar naturalidade. Naturalidade é simplesmente o que é acontece quando não tentamos que seja de outra forma. Uma criança mais pequena, não está a tentar ser outra pessoa, ou a tentar ser confiante ou a fingir que está alegre. Ela simplesmente é.


Com o tempo e com as experiencias que foi tendo, foi aprendendo que existem várias coisas que não são aceites no mundo exterior. Quando por exemplo ela grita ou fica irritada, o adulto pode reagir castigando-a ou mesmo batendo. Ou quando ela não quer comer a sopa, o adulto obriga-a e força-a. Ou quando ela chora, talvez o adulto a deixe sozinha a chorar ou lhe mostre que esse comportamento não é aceite, ou até goze com ela. Noutros casos, podem acontecer experiencias mais intensas como abusos sexuais, ou a criança experienciar agressões físicas entre os pais ou nela própria, ou ser abandonada pela Mãe, como já alguns clientes partilharam comigo.

Com isto, foi aprendendo em grande medida que, o mundo exterior não é um lugar seguro. Não é um lugar onde ela possa simplesmente ser quem é, naturalmente. Mas, como é pequena e a sua sobrevivência depende de ser cuidada, começa a desenvolver estratégias para conseguir sentir-se mais segura. Uma das estratégias é começar a agir conforme os adultos ou o mundo exterior querem que aja. Ou por outras palavras, começar a ser de uma determinada forma. Exemplo: “se eu for boazinha e fizerem o que os meus pais querem, eles vão amar-me mais e com isso vou sentir-me mais segura”. Isto não é um processo consciente. Acontece automaticamente e inconscientemente e dá início às várias máscaras protetoras. Então, tudo aquilo que aprendeu ser inaceitável, foi reprimido e escondido. E apenas se permite comportar e agir, conforme aquilo que acha que é aceitável, porque aprendeu que isso lhe garante a sobrevivência.

Então, o trauma não é o que acontece exteriormente, mas sim o que acontece interiormente como resultado dos eventos exteriores. O trauma é a desconexão com aquilo que é natural e espontâneo. É a desconexão com o nosso mundo emocional e com a nossa autenticidade. A desconexão de nós mesmos. E todos nós temos as nossas versões de trauma ou traumas. Alguns dos sintomas mais comuns são: ansiedade, ataques de pânico, sentimentos de solidão, sentir que existe algo de errado conosco, agitação interna, dores crónicas, a mente estar muito agitada, aquele aperto no peito ou na barriga, tensão nos ombros e nas costas, entre muitos outros.

Tudo isto apenas indica uma coisa: Não nos sentimos seguros no nosso próprio corpo, porque continuamos a reviver a experiência traumática de uma forma inconsciente. O corpo continua a acreditar que existe um perigo real agora e que que corre perigo de vida e não está em segurança. Podemos dizer que está a fazer o seu trabalho, em ajudar-nos a garantir a sobrevivência do corpo. Só que, o perigo já passou.


Hoje como adultos, procuramos todas as formas para fugirmos das emoções e sentimentos que estão escondidos por trás da tensão, o que faz com que a ideia e o sentimento de estarmos em perigo seja reforçada. Quanto mais nos distraímos e fugimos para as redes sociais, para relacionamentos amorosos, para a comida, para a televisão ou para outras hábitos viciosos, mais estamos a reforçar a ideia de que não estamos em segurança.

Então, como sair deste ciclo vicioso para sentirmos liberdade interior e emocional na nossa vida?


De uma forma simples, necessitamos de ajudar o corpo a entender que está em segurança e que o perigo já passou. O estado de tranquilidade interior, alegria e liberdade é perfeitamente natural. Mas enquanto o corpo continuar a acreditar que não está em segurança, todos esses sentimentos vão sendo adiados. E isto acontece gradualmente, pois não estamos habituados a sentirmo-nos bem e equilibrados e até isso pode ser interpretado como perigoso. O nosso corpo necessita de se habituar gradualmente a sentir que pode estar em segurança, relaxado e que podemos sentir alegria e bem-estar.

Grande parte da minha abordagem nas sessões que realizo, não é nada mais do que ajudar o corpo a sair do estado de alerta, para um estado de tranquilidade e relaxamento. Ao começarmos a deixar de evitar certas sensações (sentimentos ou emoções) no nosso corpo, estamos a inclui-las e a integrá-las, e com isso vamos sentir-nos mais completos e preenchidos. É a fuga às nossas sensações que cria o conflito. A solução está em aceitar, processar e integrar aquela energia que está bloqueada no nosso corpo. No programa Reconexão, eu auxilio e guio os clientes neste processo ao longo de 8 sessões. O processo em si é realmente muito simples, pois o corpo sabe naturalmente voltar ao seu estado de equilíbrio. Só precisamos de o ajudar (e não lutar contra ele) a voltar a esse estado natural.

Se o trauma é um processo de desconexão, então este é um processo de reconexão. Reconexão com a tua naturalidade, com a tua livre expressão e com quem realmente és.

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