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Entendendo a causa da ansiedade

Quando estou com um cliente que me fala que sente ansiedade, a minha pergunta normalmente é "O que é que isso significa para ti?". Ou seja, não estou preocupado nem interessado na opinião que vem no google ou nos dicionários sobre o que é a ansiedade. Habituámo-nos a ver a ansiedade com um problema e criar soluções para acabar ou reduzir esse problema, sem realmente entender as causas.


Quando alguém fala de ansiedade, significa que tem uma experiência sensorial, ou seja, sente no seu corpo algo. Talvez seja agitação, uma pressão no peito, talvez consiga reconhecer que a cabeça "não para de pensar", ou talvez sinta que vai perder o controlo ou que vai acontecer algo de mal. É por ai que é necessário começar, por dar ouvidos ao que o corpo tem para dizer.


A ansiedade é um sintoma que nos diz que existe um perigo qualquer. Ou seja, é uma função extremamente útil...quando o perigo é real. Acontece que, a maior parte dos perigos que enfrentamos no dia a dia, não são reais. Um perigo real, seria um perigo que pusesse em causa a nossa integridade física ou a nossa vida. Por exemplo, uma pessoa apontar-nos uma arma, ou sermos atacados por um animal selvagem. Dessa forma, o corpo reage ao que está a acontecer externamente, preparando-se para lutar ou fugir. Se entende que é possível dominar o perigo, luta. Senão, outra das opções é fugir.


Então, de uma forma simples, quem sente ansiedade, acredita que existe um perigo que necessita ser enfrentado, ou por outras palavras, "algo de mau vai acontecer". É a nossa perceção de perigo e não a situação em si, que faz ativar o mecanismo interno que chamamos de ansiedade. Se o nosso cérebro interpretar uma situação como perigosa, vai ativar o alarme para que o corpo se prepare para lidar com a situação. Sempre que não nos sentimos em segurança, estes mecanismos vão ser ativos.


E aqui entra outra questão: O que acontece quando este mecanismo de lutar ou fugir fica "congelado no tempo"? O que acontece quando não temos a possibilidade numa determinada situação, nem de lutar, nem de fugir? Se o cérebro interpretar que não há hipóteses de fuga nem de lutar, aciona um mecanismo de paralisação, tal como um animal que se "finge" de morto. Isto acontece para não sentirmos a intensidade de determinadas sensações. Este mecanismo faz, entre outras coisas, com que os músculos fiquem tensos e contraidos de forma a não sentirmos dor.


Quando, por exemplo somos pequenos e expressamos a nossa irritação, e somos castigados por isso, acabamos por reprimir essa nossa expressão. Ou, quando estamos muito alegres e expressivos, os outros podem fazer ou dizer algo que nos dá a impressão que somos "demais". Ou se choramos podem dizer-nos "só as meninas choram". Com isso acabamos por interpretar que esta parte nossa é "errada" e escondemos-la para podermos ser aceites e incluídos.

Então, e onde entra a ansiedade no meio disso? Todas estas partes nossas que ficaram "perdidas" no tempo querem expressar-se naturalmente e nós não estamos a deixar que isso aconteça. É um mecanismo essencialmente inconsciente, e dai ser importante começarmos a trazer essas partes escondidas e reprimidas para o nosso consciente.

Acontece que, temos medo que algo que aconteceu no passado, volte a acontecer. Temos medo de voltar a reviver as sensações, sentimentos ou emoções de experiências anteriores e por isso as escondemos. Quando não temos maturidade suficiente para processar certos estados emocionais desconectamo-nos dessas sensações. Podemos por isso, sentir que existe um perigo em deixar de fugir das emoções.


O perigo não é tanto o que poderá acontecer. Aquilo de que temos medo é das nossas próprias emoções. Temos medo de sentir medo. Então, estamos constantemente a fugir e a melhor forma de fugirmos é para a nossa cabeça e para o mundo dos pensamentos. Com o tempo, existem muitos sintomas que se vão manifestando no corpo. Pode ter começado com ansiedade, depois passou a dores crónicas, enxaquecas, tensão aqui e ali ou até mesmo doenças.

Resumindo, a ansiedade que sentimos é a nossa pressão constante para não sentirmos determinados sentimentos. O que não resulta, pois nos faz sentir as coisas com ainda mais intensidade. Então, se queremos mesmo sentir-nos mais leves e tranquilos, é realmente necessário tirar o corpo do modo emergência, ajudando-o a processar o que necessita de ser processado. Para isso, necessitamos de deixar de fugir e deixar de lutar contra as sensações que são sentidas no nosso corpo. Necessitamos de deixar de fugir de nós mesmos e ter a coragem de olhar para aquilo que nos habituámos a esconder. Algumas coisas temos consciência, outras nem por isso.

Não que seja necessariamente fácil, mas é muito mais difícil vivermos desconectados do nosso corpo e das nossas emoções. Quando conseguimos entender o que é necessário fazer para nos voltarmos a reconectar, então ficamos mais abertos e disponíveis para o fazer, e com isso vamos-nos sentindo mais completos e mais alinhados com a nossa naturalidade. Paz interior, liberdade ou alegria são apenas consequências naturais de termos tido a coragem e a habilidade para deixar de fugir de nós mesmos.

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